quarta-feira, 11 de junho de 2008

Os Leões de Bagdá.

Os Leões de Bagdá.

Roteiro: Brian K. Vaughan.
Arte: Niko Henrichon.
DC Comics / Vertigo.

O texto a seguir foi retirado do site da Panini Comics. Logo após, tecerei minhas impressões e farei comentários sobre a obra:

O escritor Brian K. Vaughan, durante um painel de divulgação da graphic novel em uma convenção nos EUA, tentou definir OS LEÕES DE BAGDÁ em apenas uma única frase: "É a Guerra do Iraque sob o ponto de vista dos animais". Os bichos falantes que protagonizam este especial, no entanto, servem somente para dar forma às muitas perguntas que o próprio Vaughan tinha sobre a ocupação norte-americana no Iraque. Tentando evitar respostas prontas que pudessem ser enfiadas goela abaixo do leitor, ele encontrou a narrativa ideal em 2003, ao ler a notícia a respeito de quatro leões que fugiram do zoológico de Bagdá após um dos primeiros bombardeios dos aviões ianques. Aqueles enormes felinos, perdidos e confusos, famintos mas finalmente livres, seriam seus protagonistas.

OS LEÕES DE BAGDÁ é uma parábola, uma bela fábula na melhor tradição de Esopo – mas que, apesar do visual do jovem filhote Ali, não pode em nada ser confundida com O Rei Leão ou demais produções da Disney. Nesta obra, a inspiração mais clara do roteirista é mesmo o clássico A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Quando um pássaro anuncia que o céu está caindo, Ali e seus companheiros Zill, Safa e Noor descobrem os caças F-18 singrando os céus da cidade. Os tratadores do zoológico parecem estar misteriosamente abandonando o local, e deixam na cova dos leões uma última e farta refeição. Logo depois, uma bomba explode violentamente, abrindo passagem para o mundo exterior.

Para onde eles devem ir? Do que vão se alimentar a partir de agora? Que preço terão que pagar pela oportunidade de rugir livremente sem estar por trás das grades? Questionando a verdadeira natureza da liberdade, eles cruzam o caminho de diversos outros animais e trocam experiências sobre a guerra – como no caso de uma tartaruga que sobreviveu às primeiras batalhas no Golfo e que revela um estranho óleo vindo das profundezas da Terra, se espalhando pelo ar e pelo mar enquanto os humanos combatem entre si. Em breve, este bando de reis da selva descobrirá que a cidade deserta é, na verdade, uma realidade muito mais turbulenta e caótica do que as savanas das quais eles se recordam em seus gloriosos tempos de caçada.


Crítica:

Vou aproveitar que ainda estou "atordoado" pela emoção que tive ao terminar de ler a Graphic Novel Os Leões de Bagdá e farei essa resenha, quebrando a continuidade das histórias dos X-Men (não se preocupem, elas voltarão a seguir). Deixei o texto acima tal como consta no site criado pela Panini, editora nacional que publicou a obra, para que eu pudesse fazer minha análise da obra sem precisar descrever a trama.

Como o próprio autor Brian K. Vaughan espera, cada pessoa reage de uma forma diferente à essa história. Não há uma visão única sobre o que ela reflete. A "verdade" por trás desses animais antropomorfizados, tanto com relação às suas personalidades quanto com relação ao caminhos que decidem traçar, é uma síntese daquilo que conseguimos captar da Guerra do Iraque.

E o valor aqui traçado é o preço da liberdade, tema que me fascina. Como definir a liberdade dentro de uma sociedade organizada politicamente? A maioria das nações civilizadas sempre possuem um grau maior ou menor no que se refere ao reconhecimento das liberdades públicas. Enfim, quais são os seus limites?

Os leões que nos são apresentados possuem personalidades diferentes uns dos outros e isso será importante para reconhecermos que, no plano dos ideais, cada "mente pensante" possui uma maneira única de ver as coisas. Cada personagem central dessa obra sintetiza um ideal, sem que se possa generalizá-los ao extremo uma vez que ainda haveria possibilidades de outras variantes.

Zill, o líder do grupo e conformista com o status quo político do "país"; Safa, a mais experiente que não acredita em mudanças radicais e crê que o melhor caminho é a aliança; Moor, a leoa revolucionária; e Ali, o filhote inexperiente que se deslumbra com o desconhecido.

O paralelo que faço desses quatro leões é que os muros que os prendem no zoológico significa o regime ditatorial de Saddam Hussein no Iraque. Assim, vejo-os como cidadãos iraquianos, vivendo dentro das regras rígidas daquele país. Mas cada um deles possui sua visão sobre o que significa viver dentro desse regime, mesmo que nenhum deles possa fazer nada para alterá-lo.

Assim que os muros são destruídos pelo exército norte-americano, esses leões (ou civis, dependendo do ponto de vista) são colocados em "liberdade" e aí começa o questionamento do quão pacificador ou justificável foi essa Guerra. Não há uma resposta pré-definida para isso, afinal de contas toda guerra possui um significado multifacetado, dependendo muito do ponto de vista político e ideológico de cada observador.

Com destruição por todos os lados, os leões também passam por todas as dificuldades de quem está no seio do conflito, correndo riscos e dependendo muitas vezes de medidas drásticas para poderem sobreviver. Exemplificando, a cena da criança cheia de sangue que os leões encontram na cidade, é um momento dramático que remete ao canibalismo nos momentos de extrema necessidade. Claro, tudo isso no meu ponto de vista. Há quem nem tenha percebido isso ou até mesmo quem discorde.

Alianças entre as "espécies" (ou etnias), instinto de sobrevivência, seqüestro, "legítima defesa", tudo isso é mostrado por meio de uma metáfora belissimamente ilustrada por Niko Henrichon. O ambiente caótico da cidade destroçada é muito bem retratado e não há economia de páginas quando o ilustrador quer causar um impacto no leitor. O resultado é fascinante.

Enfim, uma leitura altamente recomendada a todos.

Abraço!

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