quinta-feira, 27 de novembro de 2008

X-Men: Deus Ama, O Homem Mata (1982).

"Deus ama, o Homem mata"
(X-Men: "God Loves, Man Kills", Marvel Graphic Novel 05, 1982)

Roteiro: Chris Claremont
Desenhos: Brent Eric Anderson
Marvel Comics.

S I N O P S E :

O Reverendo William Stryker inicia sua cruzada religiosa a fim de erradicar todos os mutantes da Terra. Para tanto, planeja usar os poderes de Charles Xavier como instrumento, o que o leva a um cofronto (ideológico) direto com os X-Men.

H I S T Ó R I A :

A história se inicia em uma escola de Connecticut com duas crianças (Mark e Jill) fugindo de uma milícia que se autodenomina Purificadores. Após confessar o assassinato dos pais das crianças, o garoto Mark manifesta um brilho nos olhos (revelando-se um mutante) e é morto com um tiro. Jill, a irmã mais nova, indaga sobre os motivos pelos quais eles estão sendo perseguidos e mortos, obtendo da purificadora Anne um severo "Porque vocês não merecem viver".

Após o assassinato, seus corpos são amarrados e colocados em um balanço do parquinho da escola com cartazes com dizeres pejorativos ("Mutuna") para que no dia seguinte todos da escola possam observar o ocorrido. Mas antes que isso aconteça, Magneto surge e se revolta com o ocorrido. Ele promete caçar os responsáveis.

Em Nova York, no Edifício Stryker, Quartel General da Missão Internacional Cruzada Stryker, o Reverendo William Stryker assiste a um vídeo sobre os X-Men com o intuito de estudá-los e iniciar sua cruzada. Naquela época, o grupo era composto por Ciclope, Noturno, Tempestade, Wolverine, Colossus e Ariel (Kitty Pride), e contava com Charles Xavier como o seu mentor.

Na Academia de Dança Steve Hunter, Kitty discute com um aluno chamado Danny, que diz acreditar nas pregações de Stryker. Após ser contida por seus amigos, a história revela que os X-Men estão sendo monitorados pelos Purificadores.

Mais tarde, os X-Men se reúnem para assistir um debate televisivo entre o Professor Xavier e William Stryker. Xavier participa do debate como "renomada autoridade em genética humana" (até recentemente, sua condição mutante era segredo).

Depois de ficar apreensivos com o desenrolar do debate (o Professor Xavier não se sai muito bem), os X-Men decidem treinar na Sala de Perigo. No estúdio, Ciclope e Tempestade aguardam o Professor e, no caminho de volta para casa, o carro onde os três se encontravam é alvejado por um tiro que faz com que o carro capote e exploda. Os três são capturados. Na escola, Noturno recebe a informação de que os três estão mortos.



No dia seguinte, Kitty chora a morte de seus amigos em um campo da escola e Illyana (irmã de Colossus) tenta confortá-la. Súbito, elas descobrem um sensor eletrônico de vigilância. Kitty usa seus poderes de desmaterialização para danificar o aparelho e as duas decidem esperar os responsáveis pelo monitoramento da Mansão X.

Enquanto isso, Wolverine, Noturno e Colossus vão até o local onde supostamente o Professor Xavier, Ciclope e Tempestade foram mortos. Wolverine confirma que os corpos deixados no local não são de seus amigos (seu olfato superaguçado consegue distinguir pessoas com precisão). De repente, Noturno descobre que eles estão sendo seguidos e assim inicia-se um confronto com os Purificadores. No final do conflito, Magneto surge e diz que veio ao encontro dos X-Men como aliado.



Na mansão, depois de aguardar por muito tempo, os Purificadores aparecem para consertar o aparelho e, assim que é ligado, Illyana é identificada e capturada. Kitty tenta seguir escondendo-se no porta malas do carro, mas também é detectada e o compartimento é envolvido por um gás.

Dentro da escola, Wolverine tenta obter informações dos Purtificadores prisioneiros sobre a perseguição. Mas só quando Magneto intervém com seus métodos (mais sádicos) é que os X-Men descobrem tudo sobre Stryker e sua cruzada que, resume-se à completa erradicação da raça mutante.

"Uma vez mais, genocídio em nome de Deus. Uma história antiga como a humanidade" - diz Magneto, aparentemente triste com a situação.

O Professor Xavier é colocado em um tanque de isolamento e é submetido à uma lavagem cerebral. Ciclope e Tempestade também estão presos e vinculados psiquicamente ao Professor. Ao ser indagado por Tempestade do motivo pelo qual Stryker odeia tanto os mutantes, este responde: "Porque vocês existem. E essa existência é uma afronta ao Senhor".

A partir de então, ele narra sua história. Após servir à Guerra, Stryker e sua esposa sofrem um acidente de carro. Logo após o acidente, sua mulher dá a luz a um mutante. Stryker mata o próprio filho (a quem ele chama de "Monstro") e, logo em seguida, sua esposa (Marcy). Ele encobre os fatos a fim de que ninguém descubra as causas da morte de ambos. Após ter obtido o que chama de revelação divina, Stryker vira pastor. Estas são suas razões:

"O mal... o pecado... era de Marcy, não meu. Ela foi o veículo empregado por Deus para me revelar a mais insidiosa trama de Satã contra a humanidade... Corromper-nos através de nossos filhos, enquanto eles ainda estão no ventre. Deus criou o homem e a mulher à sua imagem, abençoados com sua graça. Os mutantes quebraram esse molde. Eles eram criações não de Deus, mas do Demônio."

Stryker revela ainda que descobriu o segredo dos X-Men por meio de um de seus seguidores que trabalha no FBI, que lhe forneceu cópia dos arquivos de Fred Duncan, amigo de Xavier. Para saber sobre a primeira aparição de Fred Duncan nas histórias dos X-Men, clique aqui.

A Purificadora Anne contata Stryker e pede instruções sobre o que fazer com as prisioneiras. Ele deixa a cargo de Anne o destino de Illyana e manda matar Kitty. E assim, inicia-se uma das melhores cenas de perseguição dos quadrinhos. Kitty foge dos Purificadores, tenta contatar a equipe numa cabine telefônica, tenta escapar entrando num metrô e quando, num ato heróico, se entrega para que mais civis não pereçam, Magneto e os X-Men surgem e a salvam.



No Edifício Stryker, Xavier parece que finalmente sucumbiu ao controle mental exercido por meio da lavagem cerebral a que foi submetido ao supostamente matar Ciclope e Tempestade com uma rajada psíquica. Os planos de William Stryker seriam revelados um pouco mais adiante.

Enquanto isso, os X-Men adentram no edifício e resgaram os corpos de seus amigos aparentemente mortos. Magneto e os X-Men discutem sobre os métodos que cada lado adota para resolver esse conflito.

É anunciado "o mais significativo sermão" da carreira de William Stryker, que seria televisionado e reuniria toda a imprensa e autoridades. Ele inicia sua pregação com palavras da Bíblia, para então dizer:

"Nós somos seres de criação divina. No entanto, há em nosso meio aqueles cuja existência é uma afronta a essa divindade. Deus criou o homem... a raça humana! A Bíblia não faz menção a mutantes. Assim sendo, de onde eles vêem? Alguns, chamados cientistas, humanistas... dizem que os mutantes são parte do processo natural da evolução. (...) Devemos permitir que aqueles que insistem na proposição de que o homem descende dos macacos nos digam que nossos descendentes... nossas crianças... nascerão monstros?! E que isso é natural?! Eu digo não! Eu digo jamais! Nós somos como Deus nos fez! Qualquer desvio deste templo sagrado... qualquer mutação... não pode vir do céu, mas do Inferno!"

E assim, concomitantemente, inicia-se o plano secreto de Stryker. Manipulado pelo aparelho de sondagem mental, Xavier localiza todos os mutantes da Terra e inicia a dizimação dessa raça. Os mutantes começam a sangrar com as rajadas mentais de Xavier. No auditório onde Stryker faz sua pregação, Magneto o defronta mas é atingido por uma das rajadas mentais de Xavier que lhe é direcionada. O reverendo Stryker usa e abusa de palavras bíblicas, interpretando-a literalmente, na tentativa de convencer os presentes (e os telespectadores).

Mesmo feridos, os X-Men adentram no Edifício Stryker para salvar seu mentor. A purificadora Anne, surpreendentemente, revela-se uma mutante, é renegada por Stryker que a joga do palanque para a morte.



Os X-Men conseguem salvar o Professor Xavier e destróem todo o maquinário de Stryker que serviu ao plano de erradicação da raça mutante.

E assim, após um emocionanete discurso de Ciclope, eles decidem ficar e confrontar William Stryker nas idéias. Eles vão até o auditório e Ciclope toma a frente na defesa dos mutantes, num dos diálogos mais incisivos da história dos X-Men.

Sugiro que não deixem de ampliar a imagem a seguir e leiam os diálogos dos debatedores, pois se trata do melhor momento da história, ocasião em que Ciclope mostra com bastante racionalidade a inconsistência dos argumentos de Stryker.



Mesmo parecendo redundante, reproduzo as palavras proferidas por ambos:

"CICLOPE: Você é um homem de sorte. Graças a você... e a pessoas como você... os mutantes vivem atemorizados todos os dias de suas vidas. E, às vezes... essas vidas são muito curtas. Menos de duas semanas atrás, duas crianças em Connecticut foram assassinadas, Stryker... condenadas apenas por um acidente de nascimento. Você faria o mesmo contra alguém por causa da cor de sua pele ou de sua crença?

STRYKER: Eu não faço nada, Ciclope. Sou apenas um instrumento do Senhor! E seja qual for a crença ou a cor de um homem, ele é humano. Aquelas crianças... e vocês, X-Men, não são!

CICLOPE: Quem diz? você? O que torna o seu elo como Paraíso mais forte do que o meu? Nós temos dons exclusivos... mas nada além disso e nem mais especiais do que o de um médico, um físico, um filósofo ou um atleta. Podem ser devidos a um acidente da natureza ou da providência divina. Quem pode garantir? Rótulos arbitrários são mais importantes do que a maneira como levamos nossa vida? O que supostamente somos é mais importante do que realmente somos? Sob outro ponto de vista, nós poderíamos ser a verdadeira raça humana... e todos os demais como você... os mutantes."

Logo após Kitty defender Noturno, Stryker aponta uma arma para ela e antes de apertar o gatilho, é alvejado por um dos policiais que a tudo assistia.



Depois de ser acusado de atirar no reverendo, o policial justifica: "É... o Reverendo ia atirar numa menina desarmada! Se essa é a palavra de Deus, com certeza, ela mudou desde que fui à Igreja domingo passado!".

Os X-Men são liberados, Stryker indiciado pelos crimes que cometeu e, na escola, Xavier é tentado a se entregar à causa de Magneto, mas é convencido a continuar a luta de seu sonho de pacificação entre humanos e mutantes, mais uma vez, com palavras bastante inspiradas de Ciclope.

Xavier recusa seguir Magneto e se arrepende por ter sido tentado a mudar de ideais. Ciclope diz que isso só mostra que Xavier é humano como qualquer um. Tempestade diz que houve uma inversão de papéis, em que naquela ocasião Ciclope se tornara o mestre e Xavier o pupilo, ao que Scott responde: "Rótudos de novo, pro inferno com eles". E, num clima pessimista, todos se reúnem na sacada da Mansão X.



C O M E N T Á R I O S :

1. Sobre o escritor Chris Claremont.

Tenho muito o que escrever sobre essa história.

Inicio dizendo que, ao contrário do que muitos dizem, Chris Claremont foi um escritor que soube sim escrever sozinho excelentes histórias com os X-Men. É muito comum ouvirem "Essa fase é boa porque fulano (o desenhista) deu pitacos nos roteiros". Tirando os que foram devidamente creditados (John Byrne e Jim Lee), todo o resto foi escrito por Claremont e é muito duvidoso que artistas de categoria como Alan Davis nunca tenham pedido para inserir seus nomes nos créditos referentes ao argumento da história.

Os 15 anos à frente do título Uncanny X-Men servem de prova a respeito da qualidade do escritor e esta Graphic Novel escrita só por ele é sem sombra de dúvida um dos mais belos contos dos X-Men.

Lembro que quando li essa história pela primeira vez não consegui ver toda a carga emotiva que ela traz. Alguns anos mais tarde, eu a reli e ela se tornaria uma das minhas histórias preferidas dentro de todo o gênero das HQs. Sempre achei que a melhor coisa já feita com os X-Men foi a Saga da Fênix Negra, mas hoje estou em dúvida quanto a isso, já que Deus Ama, o Homem Mata consegue em uma única revista/história, contar algo tão denso e tão em sintonia com o que o grupo representa.

Talvez aquela seja a melhor história de ação dos X-Men enquanto esta é a que melhor lida com a questão dos mutantes. Dois belos clássicos que contam com o nome "Chris Claremont" nos créditos, para infelicidade de alguns.

2. Discurso de Tolerância.

Nítido é o paralelo da discussão dessa história com as empreitadas de grupos radicais que pregam o discurso da intolerância em prol dos seus interesses, ou simplesmente por seus preconceitos. Mais notório ainda é o quão infundados são esses discursos, na imensa maioria dos casos.

A causa mutante é utilizada nessa história como uma metáfora à perseguição das minorias e o que a torna tão especial é o fato de nenhum dos lados ser tratado de forma ridicularizada. O escritor Chris Claremont procura passar a imagem do antagonista, o Reverendo William Stryker, como uma pessoa inteligente, convicta nos seus ideais e sem surtos que esvaziariam o peso de suas palavras. Ou seja, Stryker em nenhum momento é banalizado (não confundam com seu radicalismo exarcebado).

Mas, ao ser confrontado por Ciclope, os argumentos de Stryker caem por Terra porque, por mais que conceitos de "certo" e "errado" sejam e dependam muitas vezes do regime adotado em determinada época e sociedade, é insofismável a vantagem de se adotar discursos em prol da tolerância, paz e respeito ao próximo (Deus não pede isso?) do que o de uma suposta erradicação de seus semelhantes.

Se Deus existe (e isso vai da convicção de cada; eu, por exemplo, acredito), ele com certeza não gostaria que suas crias saíssem matando outras pessoas em seu nome. Tudo isso está encampando no que Chris Claremont muito bem disse nas palavras de Ciclope: "Quem diz (que os mutantes não são humanos)? Você? O que torna o seu elo com o Paraíso mais forte do que o meu?".

E para consagrar a tese (vencedora) de Ciclope, Stryker aponta para Noturno e diz que aquela "coisa" nunca poderia ser considerada humana. E, como todos os que acompanhavam as histórias dos X-Men naquela época, Noturno era (e é) um dos personagens mais bondosos e carismáticos dos X-Men. Reparem no desenho a falta de nocividade do personagem quando é apontado por Stryker.



Esse contraste de sua aparência com a sua verdadeira essência é o que o torna tão fascinante. Mais uma vez, Claremont cria um diálogo genial, quando Kitty o defende:

"Noturno é generoso, bom e decente! Ele tinha todas as razões para ser amargurado, todas as desculpas pra se tornar um demônio por dentro e por fora, mas em vez disso, decidiu aprender a rir. Eu espero ser, pelo menos, a metade da pessoa que ele é. E, se eu tiver de escolher entre gostar do meu amigo e acreditar no seu Deus... então, eu escolho... meu amigo!"

Emocionante!

3. Perseguição e Arte.

A história também traz bastante cenas de ação, para a alegria dos puristas fãs do gênero super-heróis. Mas eu coloco como destaque a cena de perseguição dos Purificadores ao encalço de Kitty Pride que, para mim, pode ser descrita como cinematográfica. Uma pena não terem aproveitado essa cena em alguns dos filmes dos X-Men (aliás, acho desnecessário mencionar que essa história serviu de inspiração para o segundo filme dos X-Men). É uma sucessão de desafios pelos quais Kitty tem que passar e, graças a seus poderes, ela não é morta em diversas ocasiões (com destaque à cena da cabine telefônica).

E como é bom ter uma equipe única de X-Men! "No momento, são seis (integrantes)". Esse número de X-Men soaria estranho perto das inúmeras equipes espalhadas por títulos "oficiais" da franquia nos dias de hoje.

Com relação à arte, felizmente hoje estou redimido pelo fato de não ter gostado inicialmente da arte de Brent Anderson (faz mais de dez anos que li pela primeira vez). Hoje aprecio muito a arte desse experiente desenhista e a dinamicidade da sua narrativa pode ser constatada na cena em que Ciclope destrói o maquinário que controlava o Professor Xavier.



Brent Anderson, em uma entrevista, disse que este foi seu primeiro trabalho como desenhista e arte-finalista concomitante e que o máximo que havia feito nesse sentido até então foram algumas capas da revista Ka-Zar, que ele desenhava. Elencou uma lista de diversos artistas que o influenciaram na época, como Jack Kirby, John Buscema, Hal Foster, Alex Raymond, Al Williamson, Neal Adams, Joe Kubert, Gene Colon, John Romita Sr., Alex Toth, Milton Caniff, Will Eisner, Wally Wood, Richard Corben, Vaughn Bodé, JC Leyendecker, Fortunino Matania, Franklin Booth, Howard Pyle, Austin Briggs e Norman Rockwell.

Os desenhos possuem um clima soturno e melancólico, algo que vejo como "as coisas andam ruins, e vão piorar". Assim, vejo que a escolha de Anderson para ilustrar essa história foi perfeita.

Enfim, trata-se de uma das histórias mais emocionantes e humanas que os X-Men já tiveram e que só comprova o brilhantismo de Chris Claremont, hoje um escritor muito desprestigiado (e com razão) já que não consegue alcançar o mesmo grau de excelência que se via naquela época.

Abraço a todos!

BAMF!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Mulher-Maravilha: Hiketeia.

"Hiketeia"
(Wonder Woman: The Hiketeia, junho de 2002)

Roteiro: Greg Rucka
Desenhos: J. G. Jones
Arte-final: Wade Von Grawbadger
DC Comics.

S I N O P S E :

"A princesa Diana de Themyscira, conhecida no mundo inteiro como Mulher Maravilha, é procurada por Danielle Wellys... uma jovemcom um trágico passado em busca de asilo. Comprometida pelo voto de Hiketeia, Diana precisa proteger sua suplicante a todo custo, sob pena de trazer para si a fúria dos deuses. Enquanto isso, em Gotham City, o Cavaleiro das Trevas está comprometido com uma missão... o de entregar Danielle à Justiça por crimes cometidos!" (Fonte: edição nacional).

H I S T Ó R I A :

O título dessa edição especial se refere a um antigo juramento grego por meio do qual um suplicante se vincula a seu mestre por meio de uma relação de mútuo respeito e proteção. O único poder que resta ao suplicante, uma vez feito o juramento, é o de quebrar o elo entre ambos.

A história se inicia com a princesa Diana de Themyscira (Mulher Maravilha) questionando a presença das três Bruxas Erínias (ou Fúrias) na frente da sede de sua embaixada. Ela relembra sobre a forma como se procede o juramento de Hiketeia, ao mesmo tempo em que imagens da Grécia antiga mostra uma situação em que o suplicado do juramento quebra as regras e é morto pelas bruxas.

A história volta três semanas e testemunhamos Danielle Wellys tirar a vida de um homem em Gotham City, para logo em seguida ser perseguida pelo Batman. Ela consegue escapar e vai em busca de proteção. Assim, ela aparece em frente à embaixada de Themyscira e faz o juramento de Hiketeia para Diana.

Estas são as palavras do juramento sagrado de Hiketeia:

"Venho me orferecer
em súplica,
a ti, minha alma.
Venho sem proteção.
Venho sem alternativas.
Sem honra, sem esperança.
Sem nada além de mim mesma
para implorar tua proteção.


Em tua sombra vou servir.
Pelo teu hálito vou respirar.
Por tuas palavras vou falar.
Por tua misericórdia vou viver.


Com todo meu coração,
com tudo o que tenho para oferecer,
eu te imploro, em nome de Zeus,
que zela por todos os suplicantes:
ACEITA MEU PEDIDO
."



Diana a acolhe em sua casa, lhe trata bem mas em nenhum momento questiona o que levou Danielle buscar proteção. As Erínias espreitam a embaixada e Diana as confronta. As bruxas dizem que com o juramento feito e aceito por Diana, ela deve honrar sua palavra de proteção sob pena de severa punição e prenunciam: "Logo ele virá".

Nos dias que se seguem, Diana leva Danielle para seus compromissos como embaixadora e quando Danielle tenta fazer com que Diana a questione sobre seus atos, ela se nega a ouvir.

Logo, Batman aparece na embaixada e tenta levar Danielle às autoridades pelo assassinato de quatro homens. Mas Diana, sob juramento, se recusa a entregá-la. Os dois tem um embate e Batman é expulso da embaixada por um gancho de direita da Mulher Maravilha.

Danielle insiste em contar seu segredo para Diana, e segurando o laço da verdade, confessa o assassinato dos quatro homens mas em razão destes terem explorado, abusado e assassinado sua irmã. Ela revela que as Erínias apareceram para ela e que exigiram que ela se vingasse.

Enquanto dorme, Diana se questiona se não teria feito o mesmo caso Donna Troy, Cassie ou uma de suas irmãs tivessem tido o mesmo destino da irmã de Danielle. Logo, as Erínias despertam o seu sono e dizem que Danielle fugiu e que caso algo aconteça com ela, Diana deverá pagar o preço.

Diana sai à procura de Danielle e novamente se encontra com Batman que insiste em levar a garota. Os dois lutam e Batman não é páreo para a Mulher Maravilha. Assim, ele usa uma tática um tanto quanto incomum: ele inicia o juramento de Hiketeia! Diana o renega e quando diz que um dos dois deverá cair para que o vencedor decisa o destino de Danielle, esta se sacrifica pulando em direção às rochas sob as risadas das Erínias. Antes de falecer, Danielle liberta Diana do juramento.

E assim, a história volta ao início de onde foi interrompida, e após indagar sobre a permanência das bruxas em frente à embaixada, estas deixam o local e Diana chora pela morte de sua suplicante.



C O M E N T Á R I O S :

Literalmente desenterrada da minha coleção (e nunca antes lida por mim), esta é a primeira história da Mulher Maravilha escrita por Greg Rucka. Posteriormente, ele escreveria a revista mensal da personagem que seria muito elogiada pela crítica especializada. O desenhista J.G. Jones também voltaria a trabalhar com a personagem junto com Rucka, sendo o responsável pelas capas do título Wonder Woman.

A história focando o Juramento Sagrado de Hiketeia é muito interessante pois coloca lado a lado dois conceitos distintos de Justiça (cada um deles representado pelos dois heróis protagonistas): a privada (Mulher Maravilha, sob juramento) e a pública, colocada sob o monopólio do Estado (Batman).

A representação sobre como funciona o juramento de Hiketeia, por meio de uma história sem diálogos de uma civilização grega na Antiguidade é muito interessante, pois intercala com os pensamentos de Diana de maneira bastante precisa.

Do mesmo modo, o segredo de Danielle é guardado até o momento exato, mas a impressão que tive era de que os assassinatos cometidos por ela já teriam de antemão alguma justificativa que a abonasse, já que a garota sempre insistiu para que Diana a questionasse sobre seus atos e chorava de vez em quando (dando um certo ar de bondade). Não esperava que ela se revelasse como uma oportunista ou algo do tipo.

Os dois confrontos da Mulher Maravilha com o Batman são rápidos e precisos, já que eles ficam na maior parte discutindo o destino da moça. Parte da edição é dedicado à história trágica da irmã de Danielle que, gradativamente, vai perdendo a sua liberdade para os homens do submundo de Gotham City. Quantas vezes não sentimos uma sensação de impunidade quando algo acontece com um ente querido? Mesmo discordando dos métodos da garota, não há como não se sentir revoltado caso uma situação semelhante aconteça com um familiar nosso.

Greg Rucka parece conhecer bastante sobre mitologia já que também explorou um pouco do assunto quando escreveu a série da Elektra, para a Marvel.

Os desenhos de J. G. Jones estão muito bons. A cena de perseguição do Batman, no encalço de Danielle, é muito bem elaborada. Mas Jones também acerta quando tem que desenhar cenas sem ação, como no momento em que Danielle está envolta com o laço da verdade e pede para que Diana pergunte sobre os motivos que a levaram a assassinar os quatro homens. Minha única ponderação é com relação às bruxas Erínias que não ficaram tão assustadoras quanto a história quer mostrar (aquelas cobrinhas nos cabelos delas não são muito 'verossímeis').

Enfim, uma boa edição especial e uma leitura recomendada a todos.

Muito provavelmente aqui se encerra neste Blog as resenhas de histórias protagonizadas pela Mulher Maravilha, já que não há mais nada que me interessa na personagem, à exceção da fase de John Byrne, mais pelo autor e menos pela personagem.

Abraço a todos!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Os X-Men 16: O sacrifício supremo!

"O sacrifício supremo!"
(The X-Men 16, janeiro de 1966)

Roteiro: Stan Lee
Esboços: Jack Kirby
Desenhos: Werner "Jay Gavin" Roth
Arte-final: Dick Ayers
Marvel Comics.

O Professor Xavier consegue voltar para o seu corpo físico. Ele deduz que a solução para o caso será descobrir o que aconteceu com o Sentinela caído no estúdio da TV. Assim, ele decide voltar à cidade e, para isso, controla mentalmente duas pessoas que trafegam pela estrada.

Aprisionados, os X-Men tentam escapar da redoma que os prende, mas suas tentativas são em vão. O Fera é mandado de volta à prisão pelo Molde Mestre, que ameaça mais uma vez Bolivar Trask caso este não o ajude a criar mais robôs.

Já no estúdio, Xavier sonda mentalemente o Sentinela moribundo e, graças a um policial, descobre que o que interferiu no funcionamento do robô foi a quebra do raio de transmissão por um cristal gigante que adorna uma torre próxima. Esperava algo mais elaborado, mas estamos na Era de Prata. Prossigamos.



Quando os Sentinelas tentam colocar o Fera junto a seus amigos na esfera que serve de prisão, os X-Men bolam um plano e conseguem escapar. Daí inicia-se uma nova batalha... para eles serem novamente derrotados por raios atordoantes! Por que diabos eles já não usam logo raios letais?

Mas antes que isso aconteça (que burros...), a cavalaria chega: três helicópteros que carregam o cristal gigante desliga todos os Sentinelas da região.



Os X-Men acordam e vão ao encalço de Molde Mestre.

Mas neste momento as luzes se apagam e inicia-se a fase de criação de novos Sentinelas. No meio do processo, Bolivar Trask se arrepende de seus atos e destrói a fonte de força iônica, capaz de mandar tudo pelos ares, inclusive o Molde Mestre.



E assim, tudo começa a explodir e os X-Men iniciam uma fuga frenética da fortaleza e escapam no último segundo (estou exagerando um pouco na descrição desse detalhe)! Nos escombros, criatura e criador jazem mortos... e uma nova ameaça ronda o instituto. Obs: na edição seguinte é revelado que se trata de Magneto (sim, ele voltou rápido do espaço, não? hehehe...).

E assim, a história inicial com os Sentinelas é finalmente concluída. Desnecessariamente dividida em três partes, ela poderia ser facilmente contada em apenas duas. Nas duas edições finais, vê apenas um emaranhado de batalhas e discussão sem muito sentido entre as máquinas e seus planos malignos.

Detalhe, em The X-Men 57, o filho de Bolivar Trask, Larry, apresentaria uma nova versão mais avançada desses robôs.

Stan Lee usa e abusa dos recordatórios, de maneira que você leva bastante tempo pra poder ler cada edição. Por um lado é bom porque, de certa forma, desenvolve os personagens. Por outro, no entanto, acaba ficando repetitivo e redundante já que na maioria das vezes vemos os X-Men conversando sobre como irão derrotar cada desafio que aparece à sua frente. Há ainda a agravante de os Sentinelas serem robôs “desprovidos de emoção”, e seus objetivos já ficaram bastante claros na edição 14.

Como disse acima, a conclusão sobre o cristal gigante, para mim, soou muito forçada. Por alguma razão, esse cristal interfere no funcionamento dos Sentinelas. Assim, apelou-se para uma espécie bizarra de “mágica científica” (um contraste).

Os desenhos de Werner Roth ("Jay Gavin" é seu pseudômino), permanecem exatamente os mesmos, sob os esboços de Jack Kirby. Não se verifica nada de inovador nas cenas de ação, seguindo o mesmo padrão das edições anteriores.

Enfim, esse arco dos Sentinelas começou muito bem mas perdeu um pouco seu impacto nas edições seguintes por ter se alongado mais do que o necessário. Recomendo mais uma vez a leitura pela importância dessa história no universo dos X-Men.

Por fim, uma frase interessante. Na cena dos escombros da fortaleza, onde o Molde Mestre e Bolivar Trask se encontram mortos, Stan Lee dá o seu recado: "Cuidado com os fanáticos! Por muitas vezes, sua cura é muito mais mortal que o mal que denunciam!". Recado dado, fim de história.

Abraço a todos!

Os X-Men 15: Prisioneiros do misterioso Molde Mestre!

"Prisioneiros do misterioso Molde Mestre!"
(The X-Men 15, dezembro de 1965)

Roteiro: Stan Lee
Esboços: Jack Kirby
Desenhos: Werner "Jay Gavin" Roth
Arte-final: Dick Ayers
Marvel Comics.

Após serem atacados pela fortaleza dos Sentinelas, os X-Men dão um jeito de se reagruparem e encontrar um lugar seguro antes de iniciarem qualquer investida.

O Professor Xavier continua matutando por que o Sentinela que o atacou no estúdio de TV caiu sem um motivo aparente. Ele bola um plano que o Homem de Gelo e o Fera são lançados pelos raios de Ciclope em um planador de gelo criado pelo picolé humano.

Assim que é atirado em direção à fortaleza, surgem tentáculos que capturam os dois heróis. O Anjo que os acompanhava sobrevoando a região tenta salvá-los, mas uma muralha de fogo o impede de entrar. Que plano idiota. hehehe...

Dentro da fortaleza, Bolivar Trask, o "eminente antropólogo" criador dos Sentinelas é levado ao Molde Mestre, a máquina capaz de criar novos Sentinelas (mas não sem a ajuda de seu "pai", já que não tem o conhecimento para tanto). Era melhor construir uma fábrica do que um "Molde" que não consegue moldar... hehehe.

Enquanto é levado, um Sentinela diz a ele que a missão pela qual eles foram programados só poderia ser plenamente realizada se eles controlassem a humanidade. Segundos depois, um deles diz que os Sentinelas terão poder para dominar o Universo(!!!). Mas, se os Sentinelas precisam defender apenas a humanidade (mesmo sob a forma de dominação), por que diabos eles precisam conquistar o Universo?!? hehehe...



O Molde Mestre ameaça destruir uma cidade inteira caso Trask não o auxilie na criação de um novo exército de Sentinelas. Trask se vê de mãos atadas.

Do lado de fora, Xavier atordoa mentalmente três Sentinelas(!!!). Enquanto isso, o prisioneiro Fera é levado à sala do Molde Mestre e Trask é obrigado a ligar a "Sonda Psíquica" para que o líder dos robôs possa "estudar" seu inimigo. Momentos mais tarde, é revelado que ele quer descobrir o esconderijo dos X-Men.

E assim, com a sonda psíquica ligada, é contada um pouco da origem do Fera, um dos meus X-Men preferidos! Sua história é bastante simples: filho de um empregado de um projeto atômico, Hank era um garoto com forma física antropóide que, depois de se destacar na escola nas atividades esportivas, passa a ser temido devido à sua condição mutante.

Seus pais são contatados por Charles Xavier para que ele possa ser treinado em seu instituto. Um adendo no tocante à história central: enquanto revela sua origem, Trask descobre que os X-Men servem para salvar a humanidade, o que o faz se arrepender de ter elaborado a sua tese intolerante (ver observação da edição anterior sobre o que aconteceria anos mais tarde em The X-Men 59).



Com os três Sentinelas "atordoados" pelo ataque mental do Professor X(!!!), os X-Men entram na base. Ao se depararem com um Sentinela, este não sabe o que fazer e manda os X-Men segui-lo(!!!) até que o Sentinela líder da seção lhe dê instruções sobre como proceder. Nota-se um evidente defeito de fabricação nessa unidade. hehehe... Cliclope avista e salva o Homem de Gelo, enquanto os demais X-Men derrotam o Sentinela sonso.

Do lado de fora, Xavier cria sua projeção astral para que ele consiga embaralhar a mente do Fera antes que este conte os segredos dos X-Men. Ele consegue seu intuito, mas ao tentar ler a "mente" do Molde Mestre ("cérebro eletrônico"!), sua projeção é repelida por ondas elétricas.



Os X-Men lutam contra novos Sentinelas e são novamente derrotados. Trask é ameaçado mais uma vez.

Ah, os miolos das histórias... Nem nos primórdios eles se salvam de não ter quase nenhum conteúdo. Esta edição tem sua importância apenas por apresentar parte da origem do X-Man Fera. Aliás, somente a primeira edição pode ser considerada muito boa por apresentar uma série de conceitos importantes para a história do grupo. Nesta e na que se segue, vê-se apenas uma série de batalhas entre os X-Men e os Sentinelas.

Ela ainda conta com algumas incoerências que o próprio Stan Lee tenta corrigir, como o ataque do Molde Mestre na projeção astral de Xavier e o fato dos Sentinelas operaram armas (sendo que seria muito mais lógico se as armas operassem sozinhas, não estamos tratando de máquinas de todo modo?). Conceitos outros como ondas elétricas que interferem em projeções astrais são expostos com uma explicação pseudocientífica que não convenceria um leitor padrão nos dias de hoje. Tenha-se sempre em mente a "inocência" da época.

A arte mantém-se tal qual as edições anteriores. A capa, na minha opinião, é uma das piores dessa fase inicial, com evidente erro nas cores de determinados conceitos (como os raios ópticos de Ciclope).

Abraço a todos!

Primeira aparição: Molde Mestre I, Norton McCoy (pai do Fera), Edna Andrews McCoy (mãe do Fera).

Os X-Men 14: Entre nós espreitam... os Sentinelas!

"Entre nós espreitam... os Sentinelas!"
(The X-Men 14, novembro de 1965)

Roteiro: Stan Lee
Esboços: Jack Kirby
Desenhos: Werner "Jay Gavin" Roth
Arte-final: Vince Colletta
Marvel Comics.

A história começa com os X-Men se recuperando da batalha contra o Fanático. O bondoso Professor Xavier concede férias aos seus alunos o que faz com que todos pulam de alegria. Um deles solta que os X-Men não têm férias há anos, então retiro o que disse sobre a "bondade" do professor.

Enquanto isso, o antropólogo Dr. Bolivar Trask anuncia à imprensa sobre a ameaça que os mutantes representam à humanidade. E assim, no dia seguinte as manchetes prenunciam o perigo de "ameaça mutante". Enquanto os X-Men se despedem uns dos outros, Ciclope, o último a deixar o instituto, entrega um exemplar de jornal ao professor. Antes de se deparar com as manchetes, Xavier observa seu aluno caminhar e pensa sobre Scott:

"Ele carrega sua solidão em silêncio... trancada dentro de si! E nada que alguém diga ou faça ajudaria! Eu conheço muito bem a dor virtualmente infindável dessa solidão..."

Muito bom! Isso é um prenúncio sobre a personalidade conturbada de Scott Summer que seria muito bem desenvovida nos anos seguintes.

Ao saber sobre as teorias de Bolivar Trask de uma suposta dominação da raça mutante (que ele diz que passaram despercebidas por causa da Guerra Fria e da bomba atômica, hehehe...), o Professor X propõe um debate televisivo com Trask, e é o que acaba acontecendo.




Com uma mera ligação de Xavier, o canal de televisão deixa de passar duas novelas e um filme western para transmitir o debate. Na TV, depois de expor seus argumentos, o Dr. Trask começa inicia seu discurso insinuando (corretamente) sobre as verdadeira intenções de Xavier defender a raça mutante e, logo em seguida, apresenta ao mundo os Sentinelas, robôs gigantes criados por ele para proteger a humanidade.

Quando começa sua demonstração de controle sobre os Sentinelas, Trask é atingido por um deles e os Sentinelas revelam que a única forma de proteger a humanidade é por meio do controle sobre a humanidade. Os Sentinelas capturam Trask e o levam até o Molde Mestre. Bela demonstração! hehehe...

Xavier lança um comando mental aos seus alunos para que eles o ajudem. E assim, Bobby (Homem de Gelo) e Hank (Fera) são os primeiros a atender ao chamado de seu professor. Warren (Anjo), na casa de seus pais (que aparecem pela primeira vez nesta edição), também sai abruptamente para poder ajudar seu mestre.

O Homem de Gelo e o Fera chegam ao estúdio de TV e iniciam uma luta contra o Sentinela. Logo depois, chega Ciclope para auxiliá-los. De repente, o Sentinela cai sem motivo aparente (a explicação seria dada duas edições à frente, em The X-Men 16).



No céu, o Anjo se encontra os Sentinelas fujões, é atacado mas é salvo graças à telecinese de Jean Grey que, graças a Deus, olhava tudo pela janela do trem!

Curioso ver ela se esforçando para se deslocar até o teto do trem por meio de sua telecinese. Um "vôo" curto que demanda muito esforço nesse início da carreira de heroína da personagem. Mal sabe ela a entidade cósmica que se tornaria anos depois.

Os X-Men observam o Sentinela caído no estúdio e Xavier consegue descobrir a base dos Sentinelas ("capta as coordenadas", eufemismo para ler a mente de um robô!) . Sem saber o que "Molde Mestre" significa, Xavier presume que talvez isso seja a chave para a solução do caso.

Os Sentinelas levam Bolivar Trask ao salão onde foram criados e ordena para que este crie mais robôs. Os X-Men chegam ao local indicado pelas "coordenadas" mas não avistam nada. De repente, são atacados por uma fortaleza subterrânea escondida.

Aqui se inicia uma das últimas histórias de Stan Lee à frente dos X-Men. Esta trama se divide em três partes, algo curioso em uma época que, em geral, cada edição trazia uma história completa.

Assim como as duas edições anteriores, essa história e as duas que a sucedem são muito importantes na mitologia dos X-Men, pois os Sentinelas são um dos principais vilões do grupo (esqueçam esse lixo de "Esquadrão Sentinela", UNI e derivados dos tempos atuais) e o anúncio de Bolivar Trask na TV é o início da histeria anti-mutante que se seguirá por toda a história dos X-Men. E assim os X-Men passam não só a combater mutantes malignos como também lidar com a intolerância e preconceito das pessoas.

Na trama existem situações bizarras dignas da Era de Prata, como leitura mental em máquinas e um antropólogo trapalhão criador de robôs gigantes. Há ainda o retorno de Zelda, a garçonete namorada do Homem de Gelo de Greenwitch Village.

De positivo, gostei de ver o desenvolvimento dos poderes de Jean Grey. De fato, é importante mostrar as novas habilidades dos personagens. Com isso, vemos que eles vão crescendo ao longo das edições. Talvez seja por isso que alguns escritores criam novos grupos que se iniciam quando jovens, para que possam então trabalhá-los do início de suas carreiras (claro que existem exceções).



Os desenhos de Werner Roth (usando o pseudômino Jay Gavin) continuam tendo por base os traços de Jack Kirby, prestes a deixar os mutantes para o eterno sempre.

Detalhe, essa história seria um pouco alterada no futuro. Em The X-Men 59, é revelado que Bolivar Trask construiu os Sentinelas para que eles impedissem que os mutantes descobrissem que seu filho Larry também é um mutante. Mas se os mutantes que são mutantes (perdoem o pleonasmo) e, em regra, se aceitam, não podem saber, imaginem os humanos "normais" intolerantes?!? Faltou coerência nesse retcon.

Enfim, a partir desta edição a revista passaria a ser mensal. Na próxima edição, teremos o embate dos X-Men contra os Sentinelas.

Abraço a todos!

Primeira aparição: Bolivar Trask, Sentinelas, Warren Kenneth Worthington Jr. (pai do Anjo), Kathryn Worthington (mãe do Anjo), Curtis (mordomo dos Worthington).

The Amazing Spider-Man 229-230: Ninguém pode deter o Fanático!

The Amazing Spider-Man 229-230.

Roteiro: Roger Stern
Desenhos: John Romita Jr.
Arte-final: Jim Mooney
Marvel Comics.

Nas duas histórias que passarei a descrever a seguir, veremos o primeiro encontro entre o Homem-Aranha com o Fanático (cuja origem já foi contada na resenha dos X-Men da Era de Prata).

Vocês podem estar dando por falta da edição 228 da revista. Ocorre que ela não foi produzida pelos autores Roger Stern e John Romita Jr. de maneira que não será objeto de avaliação neste espaço. Logo após a descrição da história, dividida em duas partes, falarei a respeito das minhas impressões sobre a trama.

"Ninguém pode deter o Fanático" (The Amazing Spider-Man 229, junho de 1982).

A história se inicia com um pesadelo da Madame Teia. Ela vê um terror negro derrotar o Homem-Aranha e ir ao seu encalço. Desesperada, ela acorda e entra em contato com Peter Parker, que naquele momentos cochilava em seu apartamento.

Ela o avisa de que a vida dela estará em perigo dentro de algumas horas e que o Homem-Aranha é o único que pode salvá-la. Sem ter uma noção precisa do que esse perigo representa, ela diz a Peter que voltará a entrar em contato com ele mais tarde.

Enquanto isso, no Porto de Nova York, Back Tom Cassidy planeja o seqüestro da Madame Teia com seu amigo Fanático. Impaciente, Cain Marko decide ir sem o barco à procura da Madame Teia. Então, entra no mar e se dirige à cidade pelo fundo da enseada até atingir a superfície.

Peter aproveita o tempo livre e vai até o Clarim Diário à procura de trabalho. Lá, ele encontra Betty Brant, agora casada com Ned Leeds. Os dois resolvem seus problemas relacionais anteriores e decidem manter a amizade. Então, a Madame Teia entra em contato novamente com Peter e o informa sobre o local da ameaça.

Enquanto Peter confabula sobre quem possa ser seu adversário (inicialmente pensa que é o Namor), o Fanático abre caminho pela cidade, não se importando (destruindo) os obstáculos à sua frente. O Homem-Aranha vê o rastro de destruição e assim que o avista, começa o embate entre os dois.

Tudo parece em vão: ele cria uma rede de teia (inútil); abre um buraco na rua (inútil); tenta o combate corpo a corpo mas não causa um arranhão no vilão. O Fanático atordoa o Aranha atravessando uma parede com ele e volta à procurada da Madame.



Seguindo o rastro de destruição deixado pelo Fanático, que inclusive resiste às investidas das autoridades que usam um pesado ataque de artilharia em sua direção (em vão), o Aranha se defronta novamente com ele na casa da Madame Teia.



Ao saber que ela não pode viver sem a cadeira que lhe dá energia, o Fanático a descarta jogando-a no chão como um objeto, deixando-a quase sem vida.

O Homem-Aranha chama uma ambulância e promete deter o vilão.



"Luta contra um inimigo imbatível" (Amazing Spider-Man 230, julho de 1982).

O Homem-Aranha vai atrás do Fanático que continua deixando seu rastro de destruição pela cidade. Inicialmente ele tenta detê-lo tentando acertar a cabeça do vilão com uma viga encontrada em uma obra demolida. O Fanático percebe a investida, segura a viga e a transforma e a amassa inteira.

Logo depois, ele tenta lançar uma esfera de metal no Fanático, mas o vilão apara o ataque e lança a esfera em uma prédio em ruínas. O edifício desaba e os dois são soterrados. O Fanático é o primeiro a se livrar do soterramento.

Enquanto isso no Clarim, Lance Bannon termina seu relacionamento e Jameson o manda fotografar a luta com o Aranha. Ele não obedece o chefe. No cais, Black Tom Cassidy avista o Fanático sem a Madame Teia e, logo depois, o Homem-Aranha.

O Homem-Aranha tenta uma nova investida contra o Fanático lançando um caminhão-tanque em direção ao vilão.



Depois de uma enorme explosão, o Fanático surge ileso à investida.

O Homem-Aranha tenta arrancar o elmo do Fanático, porém o vilão o avisa que agora o elmo está soldado à sua armadura (já que este é um dos seus pontos fracos).

Mas o Aranha tampa os olhos do Fanático e por mais que apanhe bastante durante o processo, o herói consegue levá-lo até um chão de cimento fresco que, como uma areia movediça, o leva abaixo. Finalmente, a batalha está encerrada e Aranha sai vitorioso.



Peter consegue algumas fotos da batalha e as leva ao Clarim, para a inveja de Lance Bannon. Logo depois, ele vai até o hospital e descobre que a Madame Teia perdeu a memória devido aos traumas sofridos.

Por fim, Black Tom espera seu parceiro sair do cimento... o que acaba não ocorrendo.



Engraçado ver o Homem-Aranha estranhando o Fanático, avistando-o pela primeira vez. Esse ar de novidade ainda existia no início dos anos 80, com heróis e vilões do Universo Marvel se encontrando pela primeira vez. Hoje, isso é algo raro e normalmente os novos personagens criados na Marvel dão uma surra nos antigos apenas para mostrar o quão equivalentes eles são (estou generalizando, mas há exceções).

Esta história é uma das melhores da fase de Roger Stern no título. A trama é bastante simples mas muito bem elaborada e o fato do Fanático ignorar o trânsito e sair destruindo tudo à sua frente só denota o quão irrefreável ele é (e esta é uma de suas maiores características). De tanto o Aranha tentar, chegamos a duvidar se ele conseguirá deter o vilão sozinho ou precisará contar com a ajuda de algum outro herói. Ao contrário dos X-Men, que precisaram do Tocha Humana para derrotá-lo no seu primeiro confronto, o Aranha sozinho se saiu muito melhor.

Os desenhos de John Romita Jr. estão excelentes! As cenas de ação estão muito bem elaboradas, e a minha preferida é a da explosão do caminhão. Destaco também como caiu bem o traço do Romitinha no design do Fanático, um dos melhores que eu já vi. Casou muito bem e as dimensões do vilão ficaram perfeitas comparadas com o tamanho de um homem comum (como o Homem-Aranha). Também é digno de nota o modo como Romitinha desenha o Aranha balançando pelos céus de Nova York. Muito bom!

Peter Parker 84: Lixo!

Por fim, um fato curioso. Pouco mais de 20 anos depois, o mesmo John Romita Jr. desenharia outra história mostrando um embate entre o Aranha e o Fanático. Nitidamente percebe-se que era uma tentativa de reviver esse grande momento na vida do herói (e da carreira do desenhista). Infelizmente, essa nova história, escrita por Howard Mackie e publicada em Peter Parker 84 (outubro de 1997), não segue o mesmo padrão desse primeiro encontro e pode-se dizer que é muito ruim (como quase tudo que o Mackie produziu com o herói).

Agora que conhecemos esse primeiro encontro do Homem-Aranha com o Fanático, nas próximas resenhas ligadas à fase de Roger Stern e JRJr. vamos percorrer um longo caminho até o surgimento de um dos melhores vilões do aracnídeo: o Duende Macabro.

Abraço a todos!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Os X-Men 13: Por onde passa o Fanático!

"Por onde passa o Fanático!"
(The X-Men 13, setembro de 1965)

Roteiro: Stan Lee
Esboços: Jack Kirby
Desenhos: Werner "Jay Gavin" Roth
Arte-final: Joe Sinnott
Marvel Comics.

Depois de passar a edição anterior contando a sua origem e sua relação conturbada com seu meio-irmão Cain Marko, nesta edição vemos o efetivo confronto do Fanático contra os X-Men. Todas as tentativas dos pupilos de Xavier parecem ser em vão, pois nada parece fazer pará-lo. O máximo que os X-Men conseguem ao longo da edição, e antes que Xavier consiga detê-lo é incomodá-lo e retardar seu caminho.

O Fanático é arremessado em um buraco criado por Ciclope... em vão. É confrontado diretamente por Ciclope e Anjo... em vão. Detém as defesas do Homem de Gelo e derrota o Fera, mesmo quando este conta com a ajuda da Sala de Perigo. Aqui é mostrado que o Fanático também tem uma aura protetora que impede que ele seja diretamente afetado por ameaças externas. Seu capacete também o protege de ataques mentais.

E é pensando nisso que Xavier bola seu plano de conter o vilão. Enquanto os X-Men retardam seu avanço, Xavier cria às pressas um amplificador de seus poderes e seus pensamentos são ouvidos por várias pessoas, dentre elas o Demolidor e o Tocha Humana do Quarteto Fantástico.

Enquanto fuça na sua geringonça, Xavier inicialmente pede para que o Fera afrouxe o capacete do Fanático. Depois, contata o Tocha Humana para que este o auxilie e, após um momento de certa relutância e desconfiança, o Tocha intervém, luta contra o vilão e dá tempo para que o Anjo se recurepe e tire o seu capacete. Sem ele, Xavier consegue invadir sua mente e o detém. Cria-se, assim, a maneira clássica de deter o vilão.

O Fanático, já incapaz de criar mais um tipo de ameaça ao grupo, demonstra todo o seu rancor pelo seu irmão e é finalmente abatido. E, graças a Deus, ao contrário de Lúcifer, que os X-Men deixaram sair ileso, Xavier promete levá-lo às autoridades.

Destaco as palavras finais de Xavier ao seu irmão, um texto que denota todo o potencial imaginativo de Stan Lee naquela época:

"Sua vida toda foi movida à ganância... inveja... cobiça! E agora... chegamos a... isto! Se as coisas tivessem tomado outro rumo, poderíamos ser amigos... irmãos de verdade! Mas você repudiou qualquer outro caminho! Este capítulo final foi escrito no dia em que nos conhecemos! Só poderia terminar assim!"


Muito bom! E assim, Xavier apaga as memórias do Tocha Humana para que ele não se lembre de nada e à exceção de Jean Grey, todos os X-Men ficam na enfermaria. Os quatro flertam com pobre coitada.

Esta edição é inteiramente dedicada ao confronto dos X-Men (e o Tocha Humana) contra o Fanático. Tudo sobre a história do vilão e sua ligação com seu meio irmão foi contada na edição anterior, que criou todo aquele clima de mistério sobre como ele seria para, aqui, os X-Men o combaterem. A necessidade de contar com a ajuda do Tocha Humana é mais um demérito para os X-Men, que não conseguem derrotá-lo sozinho.

Sobre o confronto em si, se Xavier precisava de tanto tempo assim para poder desenvolver seu amplificador, por que gastou tanto tempo contando sua origem para os X-Men? Mas ressalto que isso serviu para que os leitores ficassem sabendo de sua história, de maneira que essa "tática" de embromar ao máximo o Fanático nessa segunda parte da história funcionou como forma de amenizar a estupidez do Professor X.

O irrefreável Fanático apareceria novamente na Era de Prata nas edições 32-33 e na edição 46, ainda com algum mérito antes de ser derrotado por inúmeras vezes e perder esse ar ameaçador dessas edições iniciais.

Curiosamente, Werner Roth assume a arte da revista a partir dessa edição e vemos uma melhora na arte trabalhada encima dos esboços de Jack Kirby. Até The X-Men 22, Roth usará o pseudômino "Jay Gavin" nos créditos.

Essa edição e a anterior devem, portanto, serem lidas em conjunto, de maneira que uma fica bastante sem graça sem a outra. É uma leitura de referência obrigatória para os fãs dos X-Men, por conter informações muito importantes a respeito da origem do mentor do grupo (e também por ser uma excelente história... claro, nos moldes da Era de Prata).

Abraço a todos!

Os X-Men 12: A origem do Professor X!

"A origem do Professor X!"
(The X-Men 12, julho de 1965)

Roteiro: Stan Lee
Esboços: Jack Kirby
Desenhos: Alex Toth
Arte-final: Vince Colletta
Marvel Comics.

Conforme o assustado Cérebro acusou no final da edição anterior, a maior ameaça dos X-Men estava se aproximando da Mansão X, deixando a pobre máquina em pânico (!). Com o zumbido do aparelho, os X-Men entram na sala de Xavier e acabam descobrindo a respeito de Cérebro, algo que até então só Ciclope tinha conhecimento.

Numa evidente contradição, Xavier reafirma que Cérebro é uma máquina detectora de mutantes e o fato de ter detectado o Fanático, que NÃO é mutante, não passa despercebido pelo leitor. Pelo nível de ameaça que está prestes a adentrar no instituto, Xavier manda seus pupilos construírem armadilhas ao redor da escola e assim que eles terminam o serviço, ele começa a contar sua história.

Logo após o falecimento de seu pai (Brian Xavier) em uma explosão atômica experimental em Alamogordo, no Novo México, Xavier ganha um pai adotivo na figura de Kurt Marko, um pretensioso amigo de seu pai biológico que almejava sua fortuna. Tempos depois, ele se casa com a mãe de Chartes (Sharon) e todos se mudam para a mansão de seu falecido pai. Xavier sempre desconfiou da índole de Kurt.

Com o tempo, as intenções de Kurt Marko ficam mais evidentes, mas nada mais poderia ser feito já que ele e a mãe de Charles já estavam casados. Xavier também já havia começado a desenvolver naquela época seus dons de ler pensamentos alheios o que fez com que seu ódio por Kurt aumentasse cada vez mais. Estranhamente, Xavier usa terno quando está dentro de casa.

Um belo dia, chega o meio-irmão de Xavier, Cain Marko, filho de outro casamento de Kurt. Impregnado de uma genuína crueldade (existem pessoas assim de verdade, acreditem), Cain destrata Charles e logo depois chantageia seu pai pedindo dinheiro. Como este recusa o pedido do filho, Cain ameaça dizer a todos que não houve acidente algum na morte do pai de Xavier e que Kurt seria o responsável por tudo para ficar com a esposa do seu amigo e, conseqüentemente, sua fortuna (este o objetivo primordial).

Após uma discussão entre os dois, Xavier interfere dizendo que ouviu tudo e Cain acaba provocando um acidente ao misturar algumas substâncias em que seu pai trabalhava. Na explosão, Kurt leva os dois garotos para um lugar seguro, mas não resiste e morre. Suas últimas palavras foram que realmente houve um acidente na morte do pai de Xavier e que ele tome cuidado com relação aos seus poderes.

Com os poderes de Xavier sendo desenvolvidos cada vez mais ao longo de sua adolescência (e seus cabelos caindo na mesma proporção), ele começa a se destacar na escola e em eventos esportivos por trapacear lendo os pensamentos de seus oponentes. Cain Marko sente cada vez mais inveja do irmão. Assim, eles tem o seu primeiro embate físico.

Mesmo assim, Xavier insiste em ter uma boa relação afetiva com Cain e o deixa levá-lo à faculdade. Mas Cain acelera o carro e pede para que Xavier implore para parar. Isso acaba provocando um acidente , não sem antes Xavier salvar seu meio-irmão, utilizando-se de um comando mental para que este salte do carro antes da queda do veículo. Xavier não tem tempo de se salvar e acaba sendo salvo graças a um "escudo mental" (não me perguntem o que isso tem a ver com telepatia). Os X-Men perguntam se esse acidente tem algo a ver com a sua incapacidade de andar, o que Xavier responde que não (sua deficiência decorreu em um confronto com Lúcifer, conforme afirmado em X-Men 09).

Anos mais tarde, os dois servem na Guerra da Coréia e Cain Marko descobre o Templo Perdido de Cyttorak. Lá ele encontra um rubi e, ao ler a inscrição que nele consta, se tranforma no Fanático (Juggernaut, uma máquina de destruição em termos mais precisos). Mas o templo é bombardeado pelos comunistas e o Fanático ficaria soterrado por anos até se libertar e ir ao encontro do seu meio-irmão. E é o que ocorre nessa história.



Ao longo da edição, a origem de Xavier é intercalada com a ineficácia das armadilhas montadas pelos X-Men (os poucos minutos que o grupo teve para construí-las deve ter contribuído para isso). E até o final da história, não é mostrado de forma evidente a figura do Fanático. Stan Lee procura deixar um grande mistério por trás dessa ameaça, o que, de certa forma, acaba surtindo algum efeito.

Após as últimas tentativas de conter o Fanático, ele finalmente aparece e jura seu irmão de morte.

Ao contrário do que dizem sobre as primeiras histórias dos X-Men (muito criticadas, e não raras vezes, não sem razão), esta é uma das melhores histórias do grupo desta Era de Prata, quando lida conjuntamente com a edição seguinte, e conta com uma excelente origem para o Professor Xavier, que terá repercussão pelos anos que se seguiram nas aventuras dos X-Men. Definitivamente, Stan Lee acertou em cheio.

Jack Kirby fez apenas os esboços dessas edições de modo que os desenhos destoam um pouco do padrão que já estávamos acostumados. Mas seus esboços mantém a mesma estrutura de quadros e feição dos personagens. O leitor mais atento notará a diferença do estilo dos desenhos.

E esta história não conta com muitos absurdos, tirando novamente o pânico de Cérebro que apita como nunca.

Abraço a todos!

Primeira aparição: Fanático (Cain Marko).

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Lanterna Verde (vol. 4) 01-20.

Lanterna Verde (vol. 4) 01-20.

Roteiro: Geoff Johns
Desenhos: Carlos Pacheco, Ethan Van Sciver, Simone Bianchi, Ivan Reis e Daniel Acuña
Arte-final: vários
DC Comics.

Logo após ser inserido de volta ao primeiro escalão de heróis do Universo DC, Hal Jordan retorna como o protagonista da revista Lanterna Verde. Assim, inicia-se uma nova fase na vida desse personagem que durante anos ficou relegado a vilão, foi substituído por alguém mais jovem na onda renovatória dos anos 90, e depois transformado em entidade (Espectro).

Geoff Johns usa as três primeiras edições para construir o cenário inicial em que se passará a série (Coast City, recém-construída), bem como apresenta um pequeno rol de coadjuvantes como o irmão de Jordan e alguns pilotos da força aérea que o acompanharão nas história posteriores (Jillian “Cowgirl” Pearlman e Shane “Rocket-man” Sellers, por exemplo).

O primeiro arco é desenhado por Carlos Pacheco e trás de volta (heheh...) um Caçador, uma “raça” andróide predecessora dos Lanternas Verdes, desprovidos de emoção, em busca de uma unidade mais antiga e defasada. Assim, ele parte realizando uma série de mortes por onde passa. Hal Jordan e John Stewart vão ao espaço e encontram a nave desse novo Caçador e assim o arco se passa tendo como centro o confronto entre o Lanterna Verde e o Caçador. Um arco razoável que serviu como início do título, mas nada muito estimulante.

As três edições seguintes (GL 04-06), a primeira desenhada por Ethan Van Sciver e as duas seguintes por Simone Bianchi, traz o arco mais confuso para quem está não está familiarizado com o universo do personagem. Há o retorno de Hector Hammond e em nenhum momento é explicado quem ele é. Para o novo leitor, ficou difícil entender. Há também uma luta do Lanterna Verde contra um Tubarão evoluído e comedor de cérebros, bem como o retorno do Mão Negra, agora com poderes (visto pela última vez em Renascimento, quando perdeu uma das mãos).

O pequeno arco em duas partes que se segue (GL 07-08, “Uma vida perfeita”), desenhado por Carlos Pacheco, é bastante divertido. Ele mostra o filho de Mongul vindo à terra para honrar o nome de seu pai. Por meio de uma espécie de planta alienígena (Clemência Negra, obrigado Roleplayer Moore!), Hal Jordan e Oliver Queen (o Arqueiro Verde) entram em transe e se imaginam numa vida com todas as realizações que mais sonharam. Depois de voltarem à realidade e de passar boa parte da segunda edição lutando contra Mongul (o filho), na conclusão há a melhor cena do arco: como acha que o maior problema que um ser pode ter é a família, Mongul dá um soco na cabeça da irmã, arrancando-a, resolvendo desta forma a questão (hehehe...).

Merece também uma observação de que este arco é ligado à saga Crise Infinita, que eu não acompanhei. Assim, algumas referências sobre heróis e vilões, bem como sobre o que Hal Jordan está fazendo ao lado de Superman, Mulher-Maravilha e cia são passagens que somente quem acompanhou a saga saberá como tudo aquilo aconteceu.

Na edição 09 há um encontro de Hal Jordan com o Batman. Este último o contata para resolverem um caso de um homem cheio de tatuagens que mata pessoas para “salvar suas almas”. A interação entre os dois heróis ficou muito boa e, em uma determinada cena, Batman desconta o soco que levou de Hal na mini-série Renascimento. Ao final, parece que os dois ficam em paz um com o outro (esperava o contrário, mas nada que me desagrade).

Capa de Green Lantern 10, por Simone Bianchi.

Dos números 10 ao 13 da revista Green Lantern, é contado o arco “A Vingança dos Lanternas Verdes”, o melhor até aqui mostrado no título e o início de uma excelente seqüência de histórias e o primeiro desenhado pelo brasileiro Ivan Reis. Tudo começa com Hal combatendo o vilão chamado Ígneo na Rússia e sendo interferido pelos Sovietes Supremos, já que, segundo eles, o Lanterna Verde não está na sua jurisdição (território estrangeiro).

Enquanto isso, em algum lugar do espaço, um ser alienígena chamado Arkillo é recrutado para integrar a Tropa Sinestro.

Como esse arco se inicia no evento da DC Comics chamado “Um ano depois”, Hal lembra um fato passado nesse ínterim que o deixa com sentimento de culpa por não ter estado com o anel em um vôo (o que seria revelado no arco seguinte, “Hal Jordan: Procurado”). As lembranças ao longo dessas edições são vagas, mas é mostrado que ele, Cowgirl e Rocket-man são feitos prisioneiros de guerra (ganham, inclusive, uma medalha por isso). Mais detalhes sobre isso logo a frente.
No final da condecoração, uma nave cai no local da comemoração e nela se encontra Tomar-Tu, um Lanterna Verde papagaio (hehehe...) de outro setor, supostamente morto na época em que Hal era o Parallax.

Hal Jordan pede aos Guardiões do Universo para que ele siga o rastro da nave de Tomar-Tu, já que acredita os outros Lanternas Verdes que foram mortos por Parallax também podem estar. Os Guardiões negam o pedido, já que o setor 3601 não é monitorado pela Tropa dos Lanternas Verdes, mas ele e Guy Gardner vão mesmo assim.

Os anéis de Hal e Guy os levam até o setor 3600 e de lá eles se dirigem até a zona proibida no modo “manual” (adorei isso). Em uma espécie de Lua metálica, sede dos Caçadores, os dois Lanternas combatem alguns deles e se deparam com o Super-Cyborgue. Hal liberta alguns dos Lanternas aprisionados (eles realmente estavam vivos), inclusive Arísia, com quem ele teve um relacionamento no passado e, mesmo sob a desconfiança dos libertados, todos lutam e destroem o lugar. Hal e Arísia derrotam o Super-Cyborgue, sobrecarregando um Caçador que os usaria como fonte de energização.

Nesse ínterim, na Terra, algo estranho começa a aparecer no recrutamento dos Guardiães Globais (que também será revelado em “Hal Jordan: Procurado”). Em OA, Guy Gardner acoberta Hal Jordan pela empreitada proibida pelos Guardiões do Universo e ganha como punição a “vigilância prioritária” por um mês. Lá, é mostrado que o Superboy Primordial encontra-se preso.



Entre as edições 14 e 17 temos o arco “Procurado: Hal Jordan”, também muito bem desenhado por Ivan Reis (tirando um detalhe ou outro da Liga da Justiça que eu não gostei, como a Mulher Maravilha). Nele, é revelado o que realmente aconteceu com Hal Jordan e seus dois amigos pilotos (Cowgirl e Rocket-man).

Após um conflito com terroristas na Chechênia, Hal, Jillian e Shane são feitos prisioneiros de guerra. Eles ficam presos por 14 semanas e são torturados a fim de revelarem segredos sobre a força aérea americana. Após um confronto com um soldado que ele apelidou de “Ossos”, eles conseguem escapar. Hal se sente culpado pelo que aconteceu, por não ter levado o seu anel do poder no F-22 que pilotava na ocasião.

A piloto Cowgirl é novamente capturada em uma nova investida contra os terroristas e Hal, agora como Lanterna Verde, sai em busca dela. Na investida, surgem os Guardiões Globais, que matam os terroristas, culpam Hal pelo ocorrido e tentam pegar o seu anel. Por trás de todo esse imbróglio de caça a Hal Jordan está Amon Sur, o filho de Abin Sur, o predecessor do anel do poder de Jordan.

Enquanto isso, o Super-Cyborgue (ou a cabeça dele, heheh...) é encontrado pelos Guardiões do Universo para que sejam reveladas informações sobre o Setor 3601 e os “52”.

Enquanto o Lanterna Verde luta contra os Guardiões Globais, ele descobre que estes estão sendo controlados mentalmente pelos Caçadores sem Face de Saturno, que também estão querendo a recompensa pela cabeça do herói. Os Sovietes Supremos interrompem a pretensão dos Caçadores sem Face com o intuito de prenderem Hal pela sua enésima transgressão de invadir território estrangeiro. Logo surge Alan Scott, da Sociedade da Justiça e uma desnecessária participação da Liga da Justiça pronto para para ajudá-lo. Depois de muita luta, Cowgirl é resgatada.

O escritor Geoff Johns usa essa história para tentar mostrar o lado dos americanos nos conflitos terroristas, tentando justificar algumas atitudes que não são bem recebidas pela imprensa internacional. Enquanto Hal se questiona sobre os atos terroristas e, em seguida, quase beija Cowgirl, surgem os Dominadores e Cão de Briga (mais gente atrás da cabeça do pobre coitado).

De volta à história, no planeta Qward, lar da Tropa Sinestro, o membro Arkillo determina a sexta desova dos anéis e um deles se dirige ao Setor 2814, a Terra, em busca de um integrante. Em uma cena muito interessante e curiosa, Bruce Wayne é o escolhido para ser o membro da Tropa Sinestro desse setor, pela habilidade com que tem de causar medo nas pessoas (como Batman). Ele recusa, obviamente, a convocação e o anel sai em busca de um novo membro em potencial.

De volta ao conflito com Amon Sur, este manda Hal levá-lo ao local onde ele enterrou seu pai. Depois de uma troca de acusações, Cão de Briga revela-se como sendo John Stewart, o parceiro de Hal, que havia ido atrás dessa história de caça ao seu amigo. No meio da briga, Amon Sur é recrutado para compor a Tropa Sinestro e, depois de lutar por alguns momentos, é levado ao planeta Qward para “recondicionamento psicológico e físico”.

No final desse arco, Hal Jordan enterra Abin Sur em sua terra natal, Ungara e se arrepende de não ter feito isso antes.

Nas edições finais que precedem a Guerra da Tropa Sinestro (nada de Guerra dos Anéis neste espaço...), edições 17-20, há o arco “Os Mistérios de Safira Estrela”, e a cada final de edição, há uma pequena história dos “Contos da Tropa Sinestro”. A história principal é desenhada por Daniel Acuña (perfeita escolha pra ilustrar essa história, pois suas amazonas alienígenas ficaram arrepiantes) e os contos ficam a cargo do veterano Dave “Watchmen” Gibbons.

O arco gira em torno dos relacionamento de Hal com Carrol Ferris, agora casada, e seu novo relacionamento em potencial com Jillian “Cowgirl” Pearlman. O cristal de Safira Estrela entra em contato com Carol Ferris e ela sai em busca de Hal, seu verdadeiro amor. Depois de lutarem por alguns momentos, com várias tiradas sarcásticas de Hal quanto à sua dificuldade em se amarrar emocionalmente em alguém, Safira Estrela toma o corpo de Cowgirl e eles brigam novamente (até Carol Ferris entra nessa, com uma roupa produzida pelo anel de Hal).

Carol conta a Hal que enquanto estava possuída pela Safira Estrela, ela soube da origem da entidade. Na criação do universo, um grupo de mulheres dissidentes dos Guardiões do Universo, chamadas Zamaronas, acreditavam que não havia razão para se desproverem de emoções e assim partiram em busca de um novo objetivo... cultivar o amor. E assim, elas se utilizam desse cristal de safira para dominar mundos numa visão deturpada do que seja o amor, envolvendo o ser amado num cristal numa verdadeira animação suspensa. Ou algo assim, hehehe...

Essas mulheres dissidentes, Zamaronas, as Amazonas Alienígenas, aparecem e iniciam uma luta com Hal. Numa bela jogada, ele escolhe uma dessas amazonas como seu “objeto” de amor, o que faz com que o cristal se apodere dela e acabe com os planos das Zamaronas. Elas partem para conter o estrago causado por Hal.

Depois de alguns momentos tensos em um bar entre Hal, Carol e Cowgirl, esta última e ele ficam a sós e marcam de se encontrar.

Em Zamaron, as amazonas concluem que erraram em só coletar o amor. Assim, decidem coletar todas as emoções e, nisso, abre um plano com as luzes verde e amarela, que significa que elas irão também atrás do medo e da força de vontade. Muito bom o quadro de Acuña, ressalte-se.

No final, Hal vai se encontrar com Carol e, numa bela cena, descobre que ela se divorciou. Muito boa essa cena, recomendo a todos. O sorriso dela no último quadro da revista é emocionante.

No que se refere aos “Contos da Tropa Sinestro”, no Planeta Qward, Amon Sur é apresentado à Lyssa Drak, a Guardiã do Livro de Parallax. Ela conta a história de três membros da Tropa e de como eles conseguem o domínio do medo: o bio-vírus consciente Despotellis, Karu-Sil e de Bedovian, o tamanduá bandeira espacial (hehee... brincadeira). Depois, Amon é mandado para a Morada do Medo, para, na completa escuridão, contemplar e superar o seu maior medo, que ele acaba revelando como sendo... “Jordan”.



A série do Lanterna Verde começou de modo simples, aparentemente um título que não passaria do bom/regular, mas foi crescendo de tal forma que hoje é um dos meus preferidos. Particularmente, gosto muito de elementos de ficção científica e John, em quase todos os arcos, usa e abusa desse recurso.

Eu fico impressionado com a imaginação de conceitos viajantes como “bio-vírus consciente”, “Guardiã do Livro de Parallax”, a deturpação do “amor” pelas Zamaronas, estas com um visual alienígena muito bem elaborado e que combinou perfeitamente com o estilo de Daniel Acuña (mais alien do que aquilo, impossível). Adoro essas viagens que fogem do convencional.

O segundo arco, na minha opinião, é muito confuso e eu sei que provavelmente os leitores mais antigos saberão quem são todos aqueles personagens e vilões que aparecem. Mas quero ilustrar com isso que às vezes alguns personagens devem ser reintroduzidos para que leitores novos não fiquem perdidos, principalmente quando a série é relançada e procura (como todas as outras) angariar o maior número possível de novos leitores. Nesse sentido Geoff Johns poderia ter sido um pouco mais cuidadoso.

O arco “A Vingança dos Lanternas Verdes” tem todos os elementos que me fazem gostar de ficção científica. Adoro histórias no espaço e o planeta dos Caçadores ficou muito bem retratado. Aliás, conforme já foi dito, esse é o arco que inicia a arte do brasileiro Ivan Reis na revista. A partir da edição 11, muda o arte-finalista (sai Marc Campos e entra Oclair Albert, infinitamente melhor) e os desenhos ficam muito mais agradáveis. Na verdade, os desenhos de Ivan Reis são excelentes e não perdem em nada para os desenhistas que o precederam no título. Ivan consegue construir seqüências muito boas de ação e o ritmo que ele imprime nas cenas de ação é perfeito para o que a história pede.

Já no arco “Hal Jordan: Procurado”, achei que os seres que vão ao encalço de Hal Jordan em busca da recompensa de Amon Sur se atropelam, dos Caçadores sem Face de Saturno aos Dominadores (estes coitados, não tem a menor relevância na história).

A convocação da Tropa Sinestro foi lenta e muito bem desenvolvida ao longo dessas vinte edições, o que prova mais uma vez o que é um bom planejamento editorial de longo prazo num título regular (sem aqueles semestrais eventos “muda tudo” de última hora). Na pequena série dos “Contos”, os desenhos de Dave Gibbons ajudaram e muito a dar um ar assustador ao planeta Qward e a Guardião do livro, Lyssa, parece uma figura de filme de terror (principalmente segurando aquele livro acorrentado a ela).

Sobre Hal, é interessante notar como ele tenta como pode mudar seu jeito “irresponsável” de ser com relação às pessoas à sua volta. Temos a questão do seu irmão e, no arco da Safira Estrela, os seus casos amorosos. Volto a dizer: achei espetacular uma cena aparentemente normal em que Hal descobre que Carol Ferris havia pedido divórcio. Daniel Acuña desenhou um belo sorriso em Carol que revela que, mesmo incerta de que ela e Hal ficarão juntos, a esperança fez com que ela se separarasse do marido em busca de uma incerta felicidade. Adorei isso, mas não passa de uma impressão pessoal minha.

Todas as edições da revista contaram com bons desenhistas (o único mais fora de foco deles foi Simone Bianchi, que depois passou a assinar as capas das edições posteriores, algumas muito boas por mais contraditório que eu pareça). Desses, o meu preferido é Carlos Pacheco que, ironicamente, desenhou as edições mais medianas.

Enfim, a revista só cresceu em qualidade com o tempo e a partir de agora, finalmente, começa a tão bem falada Guerra da Tropa Sinestro.

Abraço a todos!