quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Mulher-Maravilha: Hiketeia.

"Hiketeia"
(Wonder Woman: The Hiketeia, junho de 2002)

Roteiro: Greg Rucka
Desenhos: J. G. Jones
Arte-final: Wade Von Grawbadger
DC Comics.

S I N O P S E :

"A princesa Diana de Themyscira, conhecida no mundo inteiro como Mulher Maravilha, é procurada por Danielle Wellys... uma jovemcom um trágico passado em busca de asilo. Comprometida pelo voto de Hiketeia, Diana precisa proteger sua suplicante a todo custo, sob pena de trazer para si a fúria dos deuses. Enquanto isso, em Gotham City, o Cavaleiro das Trevas está comprometido com uma missão... o de entregar Danielle à Justiça por crimes cometidos!" (Fonte: edição nacional).

H I S T Ó R I A :

O título dessa edição especial se refere a um antigo juramento grego por meio do qual um suplicante se vincula a seu mestre por meio de uma relação de mútuo respeito e proteção. O único poder que resta ao suplicante, uma vez feito o juramento, é o de quebrar o elo entre ambos.

A história se inicia com a princesa Diana de Themyscira (Mulher Maravilha) questionando a presença das três Bruxas Erínias (ou Fúrias) na frente da sede de sua embaixada. Ela relembra sobre a forma como se procede o juramento de Hiketeia, ao mesmo tempo em que imagens da Grécia antiga mostra uma situação em que o suplicado do juramento quebra as regras e é morto pelas bruxas.

A história volta três semanas e testemunhamos Danielle Wellys tirar a vida de um homem em Gotham City, para logo em seguida ser perseguida pelo Batman. Ela consegue escapar e vai em busca de proteção. Assim, ela aparece em frente à embaixada de Themyscira e faz o juramento de Hiketeia para Diana.

Estas são as palavras do juramento sagrado de Hiketeia:

"Venho me orferecer
em súplica,
a ti, minha alma.
Venho sem proteção.
Venho sem alternativas.
Sem honra, sem esperança.
Sem nada além de mim mesma
para implorar tua proteção.


Em tua sombra vou servir.
Pelo teu hálito vou respirar.
Por tuas palavras vou falar.
Por tua misericórdia vou viver.


Com todo meu coração,
com tudo o que tenho para oferecer,
eu te imploro, em nome de Zeus,
que zela por todos os suplicantes:
ACEITA MEU PEDIDO
."



Diana a acolhe em sua casa, lhe trata bem mas em nenhum momento questiona o que levou Danielle buscar proteção. As Erínias espreitam a embaixada e Diana as confronta. As bruxas dizem que com o juramento feito e aceito por Diana, ela deve honrar sua palavra de proteção sob pena de severa punição e prenunciam: "Logo ele virá".

Nos dias que se seguem, Diana leva Danielle para seus compromissos como embaixadora e quando Danielle tenta fazer com que Diana a questione sobre seus atos, ela se nega a ouvir.

Logo, Batman aparece na embaixada e tenta levar Danielle às autoridades pelo assassinato de quatro homens. Mas Diana, sob juramento, se recusa a entregá-la. Os dois tem um embate e Batman é expulso da embaixada por um gancho de direita da Mulher Maravilha.

Danielle insiste em contar seu segredo para Diana, e segurando o laço da verdade, confessa o assassinato dos quatro homens mas em razão destes terem explorado, abusado e assassinado sua irmã. Ela revela que as Erínias apareceram para ela e que exigiram que ela se vingasse.

Enquanto dorme, Diana se questiona se não teria feito o mesmo caso Donna Troy, Cassie ou uma de suas irmãs tivessem tido o mesmo destino da irmã de Danielle. Logo, as Erínias despertam o seu sono e dizem que Danielle fugiu e que caso algo aconteça com ela, Diana deverá pagar o preço.

Diana sai à procura de Danielle e novamente se encontra com Batman que insiste em levar a garota. Os dois lutam e Batman não é páreo para a Mulher Maravilha. Assim, ele usa uma tática um tanto quanto incomum: ele inicia o juramento de Hiketeia! Diana o renega e quando diz que um dos dois deverá cair para que o vencedor decisa o destino de Danielle, esta se sacrifica pulando em direção às rochas sob as risadas das Erínias. Antes de falecer, Danielle liberta Diana do juramento.

E assim, a história volta ao início de onde foi interrompida, e após indagar sobre a permanência das bruxas em frente à embaixada, estas deixam o local e Diana chora pela morte de sua suplicante.



C O M E N T Á R I O S :

Literalmente desenterrada da minha coleção (e nunca antes lida por mim), esta é a primeira história da Mulher Maravilha escrita por Greg Rucka. Posteriormente, ele escreveria a revista mensal da personagem que seria muito elogiada pela crítica especializada. O desenhista J.G. Jones também voltaria a trabalhar com a personagem junto com Rucka, sendo o responsável pelas capas do título Wonder Woman.

A história focando o Juramento Sagrado de Hiketeia é muito interessante pois coloca lado a lado dois conceitos distintos de Justiça (cada um deles representado pelos dois heróis protagonistas): a privada (Mulher Maravilha, sob juramento) e a pública, colocada sob o monopólio do Estado (Batman).

A representação sobre como funciona o juramento de Hiketeia, por meio de uma história sem diálogos de uma civilização grega na Antiguidade é muito interessante, pois intercala com os pensamentos de Diana de maneira bastante precisa.

Do mesmo modo, o segredo de Danielle é guardado até o momento exato, mas a impressão que tive era de que os assassinatos cometidos por ela já teriam de antemão alguma justificativa que a abonasse, já que a garota sempre insistiu para que Diana a questionasse sobre seus atos e chorava de vez em quando (dando um certo ar de bondade). Não esperava que ela se revelasse como uma oportunista ou algo do tipo.

Os dois confrontos da Mulher Maravilha com o Batman são rápidos e precisos, já que eles ficam na maior parte discutindo o destino da moça. Parte da edição é dedicado à história trágica da irmã de Danielle que, gradativamente, vai perdendo a sua liberdade para os homens do submundo de Gotham City. Quantas vezes não sentimos uma sensação de impunidade quando algo acontece com um ente querido? Mesmo discordando dos métodos da garota, não há como não se sentir revoltado caso uma situação semelhante aconteça com um familiar nosso.

Greg Rucka parece conhecer bastante sobre mitologia já que também explorou um pouco do assunto quando escreveu a série da Elektra, para a Marvel.

Os desenhos de J. G. Jones estão muito bons. A cena de perseguição do Batman, no encalço de Danielle, é muito bem elaborada. Mas Jones também acerta quando tem que desenhar cenas sem ação, como no momento em que Danielle está envolta com o laço da verdade e pede para que Diana pergunte sobre os motivos que a levaram a assassinar os quatro homens. Minha única ponderação é com relação às bruxas Erínias que não ficaram tão assustadoras quanto a história quer mostrar (aquelas cobrinhas nos cabelos delas não são muito 'verossímeis').

Enfim, uma boa edição especial e uma leitura recomendada a todos.

Muito provavelmente aqui se encerra neste Blog as resenhas de histórias protagonizadas pela Mulher Maravilha, já que não há mais nada que me interessa na personagem, à exceção da fase de John Byrne, mais pelo autor e menos pela personagem.

Abraço a todos!

7 comentários:

James Figueiredo disse...

Porra, Neto, como assim "já que não há mais nada que me interessa na personagem, à exceção da fase de John Byrne"?!

Se você gostou de Hikketea, tem a OBRIGAÇÃO de ler a fase do Greg Rucka! ;)

Sério, é muito boa, ele mandou muito bem nos três anos em que ficou no título - E a fase do Pérez também é sensacional, recomendo que você leia pelo menos o primeiro TP da fase dele, que saiu aqui pela Panini em duas versões (se você quiser, te arrumo a versão em capa mole).

No mais, excelente review - Essa graphic é ótima, e um excelente prenúncio pra fase do Rucka com a personagem!

Abraço,
J.

flávio disse...

Não cheguei a ler essa graphic novel - um dos meus maiores arrependimentos nérdicos, como fã do Jones - mas a fase do Rucka com a personagem é sensacional. Superman/Batman naquela época era um dos títulos mais bacanas da Panini.

Li pouco da fase do Jimenez, mas parece-me que ela só valeu como revisitação à fase do Perez.

Eu li, até agora, uma edição da Gail Simone, em que o Nêmesis conhece a sogrona Hipólita, e é bonzinho. Como você é marvete (pior, mutuninha, he-he), não dá pra esperar que acompanhe esses títulos periféricos da DC...

Anônimo disse...

Eu gosto da personagem, apesar de achar que ela não oferece muita chance de surpresa! Só nao curto a "roupagem" ultra moderna que o Rucka dá... ainda prefiro a sofisticação da fase Pérez!

Monstro de Antimatéria disse...

Realmente a historia de Greg Rucka é muito boa. Quando li essa historia da mulher maravilha há alguns anos achei muito interessante, principalmente pela presença da algo da cultura grega.

A impressão que tenho dos roteiristas atuais de HQ é que a única coisa que eles leram na vida foram HQ e isso é um PROBLEMÃO! Como alguém pode renovar uma arte sem ter o conhecimento de outras áreas como historia, psicologia, artes...? Principalmente, conhecimento dos argumentos clássicos da narrativa grega. É da Grécia que veio todo o nosso conceito de herói ocidental e a mulher maravilha poderia ser melhor trabalhada com pessoas que conhecessem um pouco de Grécia.

flw

Noturno disse...

Fiquei sabendo que a fase do Rucka é muito mal desenhada!!! Não que eu não considere o roteiro (na verdade, é o que eu mais considero), mas é bem o que o Flávio falou, fica difícil acompanhar se você não tem muito interesse. Só o Byrne me faria ler a MM nas 36(?)edições que ele produziu.

E Joacas ("Consumindo"), meu amigo, concordo com você. Um bom conhecimento político, histórico, mitológico, científico etc., é um excelente indicativo de que o escritor pode enriquecer a história e bolar tramas inteligentes!

Abraço!!

James Figueiredo disse...

A fase do Rucka não é mal desenhada de jeito nenhum, Neto - Majoritariamente, ela é desenhada pelo Drew Johnson e pelo Cliff Richards, que são bons (nada inacreditável, mas muito competentes) e teve um arco MAGISTRALMENTE ilustrado pelo Rags Morales (de "Crise de Identidade").

Agora vá e não peque mais! ;)

Anônimo disse...

Greg Rucka é foda. Sou fã mesmo. Leio até "Spider-man Loves Mary jane" se fosse escrito por ele.

Essa edição me impressionou MUITO. Só fui ler depois de ficar impressionado com a qualidade da fase do Rucka na mensal da Diana. Os roteiros são muito bons. Coisa fina. Não são mal desenhados, não.

O arco da luta com a Medusa é fodasso.

Rucka, você é foda.