quinta-feira, 19 de março de 2009

Wolverine: Dívida de Honra (1982).

Wolverine: Dívida de Honra (1982).
(Wolverine 01-04, setembro a dezembro de 1982)

Roteiro: Chris Claremont
Desenhos: Frank Miller
Arte-final: Josef Rubinstein
Marvel Comics.

A minissérie Dívida de Honra, de 1982, foi a primeira revista estrelada exclusivamente por Wolverine, que na época já era um personagem bastante popular. O escritor Chris Claremont conta que a história nasceu após uma conversa com Frank Miller. em uma viagem que ambos faziam rumo à uma convenção de quadrinhos. Na ocasião, eles definiram o perfil do personagem, que era visto pela maioria como um “assassino raivoso e psicótico” quando, na verdade, Claremont o via como um “samurai defeituoso”, cheio de virtudes e com uma tragédia particular que o fez perder o rumo. Com isso em mente, os autores produziram essa história.

A trama trata da trajetória de Wolverine ao Japão logo após perder contato com sua amada Mariko Yashida, filha de Shingen Yashida, líder de um clã milenar e que planeja dominar o submundo do crime japonês. Logo após descobrir que Mariko está casada e ser derrotado por Shingen em um desleal confronto, Logan conhece Yukio, que vê nela uma aliada. Esta última acaba se tornando uma importante aliada que o auxiliaria inúmeras vezes em suas incursões pelo Japão. E assim, tudo se encaminha para o confronto definitivo contra Shingen, ao final da quarta edição, bem como a aparente resolução do relacionamento de Logan com Mariko.

Foi nessa minissérie que a organização ninja chamada Tentáculo apareceu pela primeira vez. Esse grupo se estabeleceria de vez no Universo Marvel em histórias do Demolidor (também produzidas por Miller) e em aventuras solo de Wolverine, e, até hoje ainda é figura recorrente em títulos variados da Marvel como, por exemplo, o um recente arco de histórias do título Novos Vingadores.

É interessante observar que uma figura impulsiva como Logan pode, ao mesmo tempo, ter dentro de si valores como honra e até mesmo o amor por uma única pessoa. A recusa dele em se envolver com Yukio, quando ainda não havia sido recusado por Mariko, é somente uma pequena amostra de como o personagem tinha (e tem) uma personalidade rica a ser trabalhada, o que infelizmente se vê pouco nas histórias que ele protagoniza ou é explorado. Acredito que o abuso que fizeram dele com sua superexposição tenha causado muita antipatia de parte de leitores “aculturados”. Basta se lembrar da máxima de que não existem personagens ruins, mas autores ruins e isso fica evidente.

O escritor Chris Claremont possui uma característica de narrar suas histórias que pode ser observada em quase todos os seus trabalhos. Alguns chamariam isso de vícios, dadas as constantes repetições de certos elementos. Em todas as quatro edições da minissérie, Claremont usa as primeiras páginas para explicar os poderes de Wolverine: sempre há um texto falando de como funcionam as garras, como é feito seu esqueleto e o seu fator de cura mutante. Lida de uma vez só, a leitura fica um pouco cansativa nessas primeiras páginas. Também é notório o gosto do escritor em descrever lugares, inserindo uma série de referências reais quanto à exata localização do lugar, o que, para mim, não chega a ser ruim.

As caixas de recordatórios são utilizadas em primeira pessoa, característica essa que seria prevalente nas histórias atuais (o escritor Mark Millar, por exemplo, gosta de escrever nesse estilo). Talvez aqui tenha um pouco da influência de Frank Miller, já que dentre as inúmeras histórias que Claremont escreveu, não é fácil encontrar algumas nesse estilo. Mas não quero dizer com isso que é algum demérito do escritor. Apenas ressalto que esse não é o seu estilo usual de contar uma história.


Frank Miller, por sua vez, capricha nos desenhos, num estilo mais limpo e que lhe rendeu a fama que se vê hoje. Ele foge um pouco do convencional e elabora quadros que se assemelham aos mangás japoneses, com ilustrações ocupando toda a largura das páginas, notadamente nas cenas de ação. As ilustrações das batalhas entre Wolverine e seus adversários são baseadas em lutas de artes marciais, ao invés dos tradicionais chutes e pontapés típicos dos quadrinhos de super-heróis, sendo que até o formato das garras de Wolverine foram alteradas para se assemelhar a espadas.

Enfim, trata-se de uma minissérie que hoje pode ser considerada um clássico dos quadrinhos, não só por apresentar a primeira história solo de Wolverine num título próprio, como também por unir dois dos autores mais influentes daquela época.

Abraço a todos!

2 comentários:

James Figueiredo disse...

Lembro até hoje como fiquei impressionado com essa série quando li pela primeira vez, logo que saiu aqui no Brasil (e com as dezenas de interpretações do Wolverine de artistas diferentes que a Ed. Abril publicava ao fim de cada edição da mini).

Mas só quero registrar o quanto a arte do Miller ficava bonica com a finalização do Joe Rubistein (que também deixou o desenho do Marc Silvestri ainda mais bonito na mini dos X-Men contra os Vngadores)!

Abraço,
J.

Noturno disse...

Oi James. Eu particularmente gosto mais desse estilo do Miller do que o que ele viria a desenvolver anos depois.

Hoje, percebe-se que sua arte não agrada tanto mais os seus fãs dos anos 80. Reconheço que ele desenvolveu um estilo próprio, mas não posso mentir que preferiria que ele tivesse mantido o mesmo traço.

Abração!!